No meio da manhã, mais que nove, a casa está vazia. O vento brinca com a cortina por uma fresta em ondas.
O relógio de parede insiste na cadência com seus ponteiros empoeirados trilhando o painel desbotado.
Na cozinha dois copos sujos de café, pela metade com água que parece chá. A torneira mal fechada não chega a deixar escapar um fio mas sim gotas rápidas que tamborilam no fundo de uma panela virada.
No canto da mesa a chave de carro sem lugar no escapulário. Roupas pelo chão e pelo vão da porta na penumbra o dorso branco se agita.
Serpenteia, marcha e acelera.
A rósea glote suprime o grito, não muito.
Em quatro apoios de pés plantados e mãos nos joelhos dele, ela pila.
Debulha-o em lágrimas de suor
a lhe escorrer pela ignea face.
Ele de fora a contempla, ela o nega a identidade e foca no preenchimento de si que ensopada esgarça.
Vergada com a boca arregalada olhando cegamente o teto ela conclui logo depois dele.
Quem começou ninguém sabe. Se foi o vulcão dele em jorro a lhe queimar e invadir ou ventre dela fremente a lhe apertar.
Recompondo-se são de novo dois. Palavras poucas varrem o ocorrido pra de baixo do tapete. Ela parte, ele lava os copos com esmero, fecha bem a torneira e seca as mãos no pano de prato novo, recém tirado da gaveta.